31/08/2007

31. Educação

A DOÊNÇA DO DIPLOMA

Jean-Pierre Lehman*


Duas concepções equivocadas sobre educação ameaçam a qualidade daquilo que ensinamos a nossos futuros líderes de empresas Confrontada com os desafios do século 21, a educação na Europa fica muito a dever aos executivos de amanhã. O fracasso se deve, em parte, a dois conceitos equivocados sobre o real significado da educação hoje muito disseminados.
Em primeiro lugar, existe uma idéia generalizada de que quanto mais educação houver, mais avançada será a sociedade. Na verdade, a educação por si só talvez não sirva para coisa alguma. A elite chinesa de meados e de fins do século 19 era extremamente “preparada”. Isto, porém, não impediu que a China passasse pelo maior declínio de toda a sua história.
Os japoneses, por sua vez, entenderam o que tinham de fazer, e reformaram completamente o sistema educacional. Enfatizaram o comércio, a administração, a tecnologia e a ciência militar, mas também, principalmente, o estudo das línguas, da história, literatura, filosofia, pintura e música ocidentais, reconhecendo dessa forma a aparente ascensão inexorável do Ocidente na época e, conseqüentemente, a necessidade que tinham os japoneses de aprender e de se adaptar para sobreviver. O Japão, de fato, prosperou, emergiu na década de 1860 do isolamento feudal em que se encontrava e, em três décadas, alcançava o status de potência mundial. A China, enquanto isso, continuava a afundar.
Os historiadores têm poucas dúvidas de que no desenvolvimento de ambos os países, a educação de suas respectivas elites teve papel fundamental. De igual modo, o despontar atual da China é conseqüência do abandono do dogma maoísta por parte dos estabelecimentos educacionais da elite chinesa. “Melhor um comunista do que um especialista”, antigo slogan da Revolução Cultural, hoje está morto e sepultado.
O segundo conceito equivocado é o de que a educação é determinada pelo número de horas passadas dentro da sala de aula, ou de algum outro ambiente pedagógico. Na verdade, a sede de acúmulo de resultados em forma de papel é o que o sociólogo inglês Ronald Dore chama de “doença do diploma”. A conquista de bacharelatos ou de diplomas é o resultado de horas de ensino, e que se reflete atualmente na pletora de cursos para “educação” de executivos e na proliferação de MBAs. A educação tem um significado muito mais amplo e profundo; ela não está confinada no tempo e no espaço. É uma atitude, uma busca constante de aprendizado que brota de uma curiosidade insaciável. Uma pessoa “instruída” não é aquela que sabe muita coisa, e sim alguém que deseja aprender em qualquer circunstância, que faz perguntas, que testa, reflete e assimila, para com isso ganhar conhecimento e sabedoria.
A importância da educação para as empresas européias nesta era de globalização fica evidente por dois motivos principais. Primeiramente, o mundo está passando pela mudança mais profunda de sua história nos últimos 500 anos. A empresa global do século 21 não é mais dominada pelo Ocidente, e o será a cada vez menos.
Em segundo lugar, até recentemente os executivos de empresas européias não precisavam ser “instruídos” (no sentido amplo da palavra) em assuntos que nada tivessem a ver com disciplinas básicas do mundo dos negócios (marketing, finanças etc.).
O executivo europeu do século 21 deve estar muito bem munido de quatro atributos: discernimento para os negócios, conhecimento global, bússola ética e compromisso com a cidadania. Tudo isso requer uma sólida educação — não apenas conhecimento, mas também sabedoria. O primeiro deles, discernimento para os negócios, é a principal preocupação das escolas de negócios, e com razão: para que uma empresa seja lucrativa por muito tempo é preciso que conte com uma gestão profissional.
Com relação ao conhecimento global, em muitos dos programas empresariais em que leciono, geralmente começo propondo à classe o que chamo de “teste de alfabetização global”, que consiste em aproximadamente 50 perguntas, muitas das quais o indivíduo alerta e curioso (isto é, instruído) pelas coisas globais deve ser capaz de responder. Os resultados são invariavelmente decepcionantes. Isto, em parte, é reflexo do atual “sistema” educacional, em que a “instrução” adequada sobre a China, Índia e Oriente Médio não é ministrada. Todavia, pessoas instruídas, ou educadas, não confiam unicamente, nem mesmo principalmente, na instrução que recebem. Elas buscam satisfazer sua curiosidade intelectual insaciável através de outros meios de crescimento pessoal.
Possuir uma bússola ética e uma percepção adequada de cidadania requer que o executivo tenha uma confrontação intelectual genuína com a complexidade, e assim desenvolva o nível de sabedoria necessário para julgar dilemas difíceis. Isto se obtém por meio da filosofia, literatura, história, física e química, lingüística e outras disciplinas “profundas”, mas não é algo que somente um compêndio tradicional de negócios possa proporcionar. Portanto, embora a história dos negócios possa ser inspiradora no que diz respeito à inovação, à tecnologia, ao risco e à produção, sua face política, porém, é bem menos brilhante. Se, por exemplo, olharmos para a história da França durante a ocupação alemã, encontraremos poucos líderes de empresas entre os baluartes da resistência. Na verdade, o comportamento de muitas empresas em relação ao regime nazista e a outros regimes igualmente repressivos está longe de ser exemplar. Mesmo em tempos mais recentes de paz, os líderes de empresas dos EUA, só para dar mais um exemplo, não demonstraram pressa alguma em apoiar o movimento em prol dos direitos civis.
Mas chega de falar do passado. Com relação ao presente e, especialmente ao futuro, na era global da internet e da “transparência”, ficará cada vez mais evidente que a política, a ética e os negócios não podem ser separados um do outro.
Não é preciso nenhum oráculo para entender que há nuvens pesadas de tempestade se formando no horizonte dos negócios globais. No que se refere ao futuro da empresa européia, e à contribuição que lhe cabe dar, há desafios terríveis pela frente. Seus líderes terão de ser muito mais “instruídos” em conhecimentos e filosofia de vida. Depois de adquirida essa educação, serão muito mais “ricos” no sentido mais amplo da palavra, bem como a sociedade como um todo.

Jean-Pierre Lehman é do IMD (International Institute for Management Development), instituto suíço de educação para executivos.
Fonte: Artigo extraído do site http://www.epocanegocios.com.br/


31. EDUCAÇÃO


31.1 A CASA DE RUBEM ALVES
31.2 Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação - Anped
31.3 Biblioteca Digital Paulo Freire
31.4 Biblioteca Virtual de Educação - BVE
31.5 Biblioteca virtual do estudante brasileiro
31.6 C R E Mario Covas - Centro de Referência em Educação
31.7 Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária
31.8 Cidade do Conhecimento — IEA-USP
31.9 CiFEFiL-Círculo Fluminense de Estudos Filologicos e Lingüísticos
31.10 E D U C A B R A S I L
31.11 Educacional
31.12 Educar na Sociedade da Informação
31.13 Escola do Futuro da USP
31.14 Escola24horas
31.15 Fundação Bradesco
31.16 Fundação Getulio Vargas
31.17 Fundação Joaquim Nabuco
31.18 Guia Abril do Estudante
31.19 Inep - DataEscolaBrasil
31.20 INEP - EDUDATABRASIL Sistema de Estatísticas Educacionais
31.21 INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
31.22 Instituto Nacional de Evaluación y Calidad del Sistema Educativo
31.23 Instituto Paulo Freire - Brasil
31.24 Laboratório Interdisciplinar de Tecnologias Educacionais
31.25 Ministério da Educação
31.26 Miniweb Educação
31.27 Nova Escola
31.28 Organización de Estados Iberoamericanos para la Educación, la Ciencia y la Cultura
31.29 Portal de Serviços e Informações de Governo Educação
31.30 Programa Sociedade da Informação no Brasil
31.31 Programa Universidade Solidária
31.32 PROLEI
31.33 Rede Nacional de Ensino e Pesquisa
31.34 Routledge Falmer
31.35 SABER - O Portal do Conhecimento
31.36 Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul
31.37 Sociedade Brasileira de História da Educação
31.38 SOSIG Education
31.39 Universia.net
31.40 Wiley InterScience Browse By Subject Education


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